Desde o tempo sem número em que as origens
se elaboram,
se estendem para mim os teus braços eternos,
que um estatuário de caminhos invisíveis
construiu com a cor e o frio e o som morto de
mármores,
para que em teu abraço haja imóveis invernos.
Tu bem sabes que sou uma chama da terra,
que ardentes raízes nutrem meu crescer sem
termos;
adestrei-me com o vento, e a minha festa é a
tempestade,
e a minha imagem, como jogo e pensamento,
abre em flor o silêncio, para enfeitar alturas
e ermo.
Os teus braços que vêm com essa brancura
incalculável
que de tão ser sem cor nem se compreende
como existe,
- são os braços finais em que cedem os corpos,
e a alma cai sem mais nada, exausta de seu
próprio nome,
com uma improvável forma, um vão destino
e um peso triste.
Pois eu, que sinto bem esses teus braços
paralelos,
na atitude sem dor que é o rumo e o ritmo
dessa viagem,
Cecília Meireles*
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