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sábado, 29 de março de 2014

Canção de Outono


Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...

      "Cecília Meireles" 

Os amantes {Cronica de um grande escritor Rubem Braga}

Nos dois primeiros dias, sempre que o telefone tocava, um de nós esboçava um movimento, um gesto de quem vai atender. Mas o movimento era cortado no ar. Ficávamos imóveis, ouvindo a campainha bater, silenciar, bater outra vez. Havia um certo susto, como se aquele trinado repetido fosse uma acusação, um gesto agudo nos apontando. Era preciso que ficássemos imóveis, talvez respirando com mais cuidado, até que o aparelho silenciasse.
Então tínhamos um suspiro de alívio. Havíamos vencido mais uma vez os nossos inimigos. Nossos inimigos eram toda a população da cidade imensa, que transitava lá fora nos veículos dos quais nos chegava apenas um ruído distanmte de motores, a sinfonia abafada das buzinas, às vezes o ruído do elevador. Sabíamos quando alguém parava o elevador em nosso andar; tínhamos o ouvido apurado, pressentíamos os passos na escada antes que eles se aproximassem. A sala da frente estava sempre de luz apagada. Sentíamos, lá fora, o emissário do inimigo. Esperávamos quietos. Um segundo, dois – e a campainha da porta batia, alto, rascante. Ali, a dois metros, atrás da porta escura, estava respirando e esperando um inimigo. Se abríssemos, ele – fosse quem fosse – nos lançaria um olhar, diria alguma coisa – e então o nosso mundo seria invadido.
No segundo dia ainda hesitamos; mas resolvemos deixar que o pão e o leite ficassem lá fora; o jornal era remetido por baixo da porta, mas nenhum de nós o recolhia. Nossas provisões eram pequenas; no terceiro dia já tomávamos café sem açúcar, no quarto a despensa estava praticamente vazia. No apartamento mal iluminado íamos emagrecendo de felicidade. Devíamos estar ficando pálidos,e às vezes, unidos, olhos nos olhos, nos perguntávamos se tudo não era um sonho. O relógio parara, havia apenas aquela tênue claridade que vinha das janelas sempre fechadas. Mais tarde essa luz do dia distante, do dia dos outros, ia se perdendo, e então era apenas uma pequena lâmpada no chão que projetava nossas sombras nas paredes do quarto e vagamente escoava pelo corredor, lançava ainda uma penumbra confusa na sala, onde não íamos mais.
Pouco falávamos: se o inimigo estivesse escutando às nossas portas, mal ouviria vagos murmúrios; e a nossa felicidade imensa era ponteada de alegrias menores e inocentes, a água forte e grossa do chuveiro, a fartura festiva de toalhas limpas, de lençóis de linho.
O mundo ia pouco a pouco desistindo de nós; o telefone batia menos e a campainha da porta quase nunca. Ah, nós tínhamos vindo de muito e muito amargor, muita hesitação, longa tortura e remorso; agora a vida era nós dois apenas.
Sabíamos estar condenados; os inimigos, os outros, o resto da população do mundo nos esperava para lançar olhares, dizer coisas, ferir com maldade ou tristeza o nosso mundo, nosso pequeno mundo que ainda podíamos defender um dia ou dois, nosso mundo trêmulo de felicidade, sonâmbulo, irreal, fechado, e tão louco e tão bobo e tão bom como nunca mais haverá.
No sexto dia sentimos que tudo conspirava contra nós. Que importa a uma grande cidade que haja um apartamento fechado em alguns de seus milhares edifícios – que importa que lá dentro não haja ninguém, ou que um homem e uma mulher ali estejam, pálidos, se movendo na penumbra como dentro de um sonho?
Entretanto, a cidade, que durante uns dois ou três dias parecia nos haver esquecido, voltava subitamente a atacar. O telefone tocava, batia dez, quinze vezes, calava-se alguns minutos, voltava a chamar: e assim três, quatro vezes sucessivas.
Alguém vinha e apertava a campainha; esperava; apertava outra vez; experimentava a maçaneta da porta; batia com os nós dos dedos, cada vez mais forte, como se tivesse certeza de que havia alguém lá dentro. Ficávamos quietos, abraçados, até que o desconhecido se afastasse, voltasse para a rua, para a sua vida, nos deixasse em nossa felicidade que fluía num encantamento constante.
Eu sentia dentro de mim, doce, essa espécie de saturação boa, como um veneno que tonteia, como se os meus cabelos já tivesse o cheiro de seus cabelos, como se o cheiro de sua pele tivesse entrado na minha. Nosso corpos tinham chegado a um entendimento que era além do amor, eles tendiam a se parecer no mesmo repetido jogo lânguido, e uma vez que, sentado de frente para a janela, por onde filtrava um eco pálido de luz, eu a contemplava tão pura e nua, ela disse: “Meu Deus, seus olhos estão esverdeando”.
Nossas palavras baixas eram murmuradas pela mesma voz, nossos gestos eram parecidos e integrados, como se o amor fosse um longo ensaio para que um movimento chamasse outro; inconscientemente compúnhamos esse jogo de um ritmo imperceptível como um lento bailado.
Mas naquela manhã ela se sentiu tonta, e senti também minha fraqueza; resolvi sair, era preciso dar uma escapada para obter víveres; vesti-me, lentamente, calcei os sapatos como quem faz algo de estranho; que horas seriam?
Quando cheguei à rua e olhei, com um vago temor, um sol extraordinariamente claro me bateu nos olhos, na cara, desceu pela minha roupa, senti vagamente que aquecia meus sapatos. Fiquei um instante parado, encostado à parede, olhando aquele movimento sem sentido, aquelas pessoas e veículos irreais que se cruzavam; tive uma tonteira, e uma sensação dolorosa no estômago.
Havia um grande caminhão vendendo uvas, pequenas uvas escuras; comprei cinco quilos, o homem fez um grande embrulho; voltei, carregando aquele embrulho de encontro ao peito, como se fosse a minha salvação.
E levei dois, três minutos, na sala de janelas absurdamente abertas, diante de um desconhecido, para compreender que o milagre se acabara; alguém viera e batera à porta e ela abrira pensando que fosse eu, e então já havia também o carteiro querendo recibo de uma carta registrada e, quando o telefone bateu, foi preciso atender, e nosso mundo foi invadido, atravessado, desfeito, perdido para sempre – senti que ela me disse isto num instante, num olhar entretanto lento (achei seus olhos muito claros, há muito tempo que não os via assim, em plena luz) um olhar de apelo e de tristeza, onde, entretanto, ainda havia uma inútil, resignada esperança

quinta-feira, 20 de março de 2014

As vezes fico a pensar


Se tudo que vivo é para me
Ensinar a viver melhor no
Dia de amanhã ou se é
Apenas para me magoar.

Amei uma vez e na angústia prometi
A mim mesma que 
Nunca mais ia amar alguém.
Passou algum tempo você voltou 
e novamente me apaixonei.
    
 'clotildev.guimarães'

quarta-feira, 19 de março de 2014

Permita que eu feche os meus olhos,
Pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora, 
E cantando pus-me a esperar-te.

Permita que agora emudeça 
Que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silêncio, e a dor
É de origem divina.

Permita que eu volte o meu rosto
Para um céu maior que este mundo,
E aprendi a ser dócil no sonho
Como as estrelas no meu rumo.

         'Cecilia Meirelles'

terça-feira, 18 de março de 2014

Um sonho

Alô!

          Tudo bem, a cada instante meu coração bate mais forte, pois acabo de me levantar, na minha frente um pedaço de papel eu tento escrever algo a você, mas as minhas mãos tremem ao pegar na caneta, as lágrimas escorrem em meu rosto, continuo olhando o papel e não consigo escrever, minha mente não funciona ela não consegue raciocinar. Levanto, vou a janela, olho a lua e as estrelas, penso em você, no que está a fazer, sinto ciúmes dos seus sonhos, da sua cama e nada posso fazer.
          Chego a imaginar seu perfume, eu segura em seus braços então lembro-me do papel que continua na mesa em branco esperando que eu coloque nele o que sinto, mas não encontro palavras, que possam dizer o quanto eu te quero e como preciso de você, que apesar de não saber é mais que importante para mim. Então mesmo tremendo pego a caneta e escrevo tudo o que sinto por você. Meu eterno amor quero que saiba, tua imagem está fixada em minha alma eu te amo e sempre te amarei.
                          
             'clotildev.guimarães'                           
 

Um sonho

Estou vivendo um sonho
E não quero mais acordar
Por tanto tempo te procurei
E agora que te encontrei
Não consigo acreditar.

Você chegou 
Me ofereceu carinho 
Foi tudo tão perfeito
Tomara que dure muito tempo

Você é especial
É tão diferente
Não parece ser real

Estou muito feliz
Quero-te ao meu lado
Você é tudo que sempre quis
Quero ser amada
Quero-te como meu namorado.


'Eu e meus sonhos'
Eu ando sempre sonhando
Ando meio perdida
Sempre alguém amando
Mas nunca fui amada

Sinto falta de carinho 
Sinto falta de amor verdadeiro
Mas que duro caminho
Como um grande pinheiro
Que tem muitos espinhos

Eu não sei bem porque isso
Acontece só sei que ninguém merece
Sofrer e sonhar com algo
Que não pode alcançar

Mas ainda assim vivo porque sonho
Pois a vida é assim
Um verdadeiro sonho que não tem fim.
'clotildev.guimarães'












quarta-feira, 12 de março de 2014

Tercendo fio

Tal qual Penélope
a primeira malha eu teço.
Por isso o primeiro verso
escrevo aqui, a mão.
Feito a mão é a poesia
tecida com esta linha de escrita, escrita a mão.
Quem não gosta do que faço
apague com a borracha
o ponto e linha do traço.
Cuidado com a tal traça
poeta cheia de graça,
agulh, vara encantada
de mão
de fada!

*Orthof*

Penélope(tecelã)

Estou fazendo poesia
como quem faz esta meia:
poesia e meia,
tecidas com ponto de tricô
e renda,
ponto de lenda.
Faço qui esta poesia,
que teço, teço,
desfaço,
juntando ponto de beijo
com a malha
deste
abraço.
*Orthof*

terça-feira, 11 de março de 2014

Não acredito

Não acredito que te encontrei
Sonhei tanto contigo
Por tanto tempo te esperei
E agora não mais consigo

Esconder esse tão doce sentimento
Que toca fundo em meu coração
Marcando cada instante cada momento
E queimando forte o fogo da paixão

Meu querido não acredito
Que está tão perto
E ao mesmo tempo tão distante
Não importa penso em você a todo instante

Meu querido, vou ao seu encontro
Não dá para ficar nem mais um minuto
Espero que tudo não passe de um conto
   Porque te amarei e não acredito  
'clotildev.guimarães' 

segunda-feira, 3 de março de 2014

Os minutos não passam

Os segundos são eternos
As horas não se vão
Tudo fica confuso e não entendo
Pois minha alma de ternura transborda

E não vejo a hora de te ver
Meu coração dispara só em pensar
De não suportar a dor de te perder

Hoje aconteça o que acontecer
Eu não vou me segurar
Vou logo te dizer
Que nunca deixarei de amar

Para mim o tempo não passou
Tudo continua no mesmo lugar
Absolutamente nada mudou
Agora tenho mais certeza que sempre
Irei te amar.
  'clotildev.guimarães'