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domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ausência


Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite.
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço.
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos pontos silenciosos.
Mas eu te possuirei como ninguém porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas.
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


* Vinícius de Morães*








     

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Do Amor Maior

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.


E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.


Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo


Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo.


    * Vinicios de Moraes*







   

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

À lua

 Por que tens, por que tens olhos escuros
 E mão lânguidas, loucas e sem fim
Quem és, que és tu, não eu, e estás em mim
impuro, como o bem que estás nos puros?

Como a criança que vagueia o canto
Ante o mistério da amplidão suspensa
Meu coração é um vago de acalanto
Berçando versos de saudade imensa.

Não é maior o coração que a alma
Nem melhor a presença que a saudade
Só te amar é divino, e sentir calma...

E é uma calma tão feita de humildade
Que tão mais te soubesse pertencida
Menos seria eterno em tua vida.








Que beijo teu de lâgrima terei para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando não puder te dizer por que chorei?




















Não te vira cantar sem voz, chorar sem lâgrimas e estrelas
desencantar, e mundo recolhe-las para lançá-las fuldurando ao mar?

*Vinicius de Moraes*

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Carícia

Cascata de luz, riso de marfim:
Letras voaram com cores arfantes!
e havia desenhos de raros jasmim.

Em tempo teal e beijo apaixonante,
findou-se o inverno rude, 
em fim houve prazer recíproco uivante!...

Na sillueta de bronze só pra mim,
caira pétalas de belos diamantes!

* Machado Carlos *

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Amor

Amo você 
Intensamente
numa querença sem igual.
Num sentimento puro,
sincero, leal.  

Amo você
com a força de minha alma,
com a doçura das palavras,
com toda ardência emanada
de meu ser.

Amo você
no meu desejo avassalador,
na grande ducura de lhe ter. 
Meu grande amor.