Canção
No desequilíbrio dos mares, as proas giram sozinha...
Numa das naves que afundaram e que certamente tu
vinhas.
Eu te esperei todos os séculos sem desespero e sem
desgosto, e morri de infinitas mortes guardando sempre
no mesmo rosto.
Quando as ondas te carregaram meus olhos, entre águas
e areias, chegaram como os das estatuais, a tudo quanto
existe alheios.
minhas mãos pararam sobre o ar e endureceram junto ao
vento,e perderam a cor que tinham e a lembrança do
movimento.
E o sorriso que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva dentro desta água sem fim.
De Cecilia Meireles