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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

À Minha Mãe Querida



Oh! linda pia após o almoço,
cheia de pratos, talheres e panelas,
por que me chamas assim, tão insistente
me obrigando a dissolver sonhos e fantasias?

Oh! linda voz da mãe querida,
por que te tornas assim tão estridente
em apelos que mais parecem gritos
só por eu  lutar ardentemente
em permanecer envolvida em meus delírios?

Ah! os olhos feijão-roxinho do Paulinho...
Teus cabelos de fios de macarrão
tua pele, um bife malpassado
ardendo sob o sol de janeiro.

Que culpa tenho eu, minha mãezinha,
se na rotina secaste teu coração?
Se não enxergas a beleza de um fogão engordurado?
Se vives a favor das horas, nesse corre-corre insuportábel?
Se esqueceste do onítico sabor do quinfim de padaria,
o mesmo sabor do sorriso do menino apaixonado?

Rendo-me.
Vou enfim para o martírio.
Deizo agora o sofá e macias almofadas
e me entrego a esta tortura, acorrentada.

Mergulho minhas mãos na água com detergente,
levando tudo com resignação,
e dela escapam bolhas de sabão,
Só podem ser os sonhos que eu insisto em sonhar. 

*Flavia Menegaz*